terça-feira, 7 de setembro de 2010

Ave Maria do Peão

Ave Maria do Peão



Odilon Ramos


Ao reponte do sol que descamba


no dia se aprochega para o arremate


pelos campos e nos matos da querência


no revoar da bicharada voltando ao ninho


é hora de recolhimento






No rancho que há no interior


de mim mesmo


eu, gaúcho de fé


me arrincono e medito






Despindo o poncho da vaidade


e do orgulho


tiro o chapéu, apago o pito


e me achego pra uma prosa


com o patrão maior






Na sua presença


meu sangue quente de farrapo


se faz manso caudal


entrego-lhe minha alma


afoita de alcançar lonjuras


e abrir cancha


em busca do destino


renuncio à minha xucra rebeldia


me faço doce de volta


e macio de tranco


para dizer-lhe






Gracias patrão


por tudo que me deste


por esta querência Senhor


que meus ancestrais regaram


com seu sangue


e que aprendi a amar desde piá






Pelos meus parceiros


nessa ronda da vida


sempre de prontidão para


me amadrinharem na


campereada mais custosa


ou para matearem comigo


na hora do sossego










Reparte com eles, patrão


esta fé que me deste


e este orgulho pela minha


querência






Ajuda patrão


a manter acessa esta chama


concede sempre ao gaúcho


a força no braço


e o tino pra saber o que


é correto






Dá-nos consciência


para preservar a nossa cultura


livre da invasão dos modismos


conserva a essência e a beleza


da nossa tradição






E agora, com licença patrão


que vou aproveitar a olada


para um dedo de prosa com


Nossa Senhora






Ave Maria


primeira prenda do céu


contigo está o Senhor,


na estância maior


tu és bendita entre todas


as prendas


e bendito é o piá que


trouxeste ao mundo, Jesus






Maria, mãe de Deus


E mãe de todos nós


roga pela querência


e pelos gaudérios


que aqui moram


nesta hora e no instante


da última cavalgada






Amém

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